domingo, 10 de janeiro de 2016

A Bíblia na Literatura Medieval Portuguesa



A Bíblia na Literatura Medieval Portuguesa,
Mário Martins,
Instituto de Cultura Portuguesa, Biblioteca Breve,
1.ª ed., 1979, 141 pp., br.;
Preço: 12 €

"A Primeira Epístola aos Coríntios… Relia-a à luz de uma vela subitamente antiquíssima, E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim…" E Fernando Pessoa termina: "Meu Deus, e eu que não tenho caridade!»"Séculos atrás, meditara Camões o salmo 136, marcado pelo exílio: "Junto dos rios de Babilónia, ali nos sentámos e pusemos a chorar, / lembrando-nos de Sião." E Camões escreveu para a eternidade: "Sôbolos rios que vão / Por Babilónia, me achei, / Onde sentado chorei / as lembranças de Sião." O seu exílio não era só dele ou do seu povo. Era o exílio essencial de todos nós — um exílio por dentro. Para aquém e para além do teatro neo-clássico e dos grandes exegetas portugueses (entre eles o dominicano Frei Luís Sotomaior, nos seus comentários ao Cântico dos Cânticos), vemos o grande rio da nossa literatura, até ao séc. XIX, a prolongar-se depois no hic et nunc da vida portuguesa. E sentimos a Bíblia nas suas entranhas, mesmo quando a não enxergamos à tona da água".

Mário (Gonçalves) Martins, S.J. (1908-1990). O epitáfio podia ser breve: nasceu em 17. 2. 1908 (Zibreira – Torres Novas) e faleceu em Lisboa, 30. 6. 1990. Erudito e justo ficou na memória de todos quantos o conheceram ou leram os seus ensaios. Tendo entrado no Colégio das Missões Ultramarinas (em Cucujães, onde chega com o 5º ano de preparatórios), passa aos vinte anos para a Companhia de Jesus e nela faz o seu percurso académico, por lugares diversos (Braga, Enghien / Bélgica, Salamanca), fugindo ao monstro da guerra até regressar à pátria. Em 1943, fixa-se em Lisboa, integrado o corpo redactorial da revista Brotéria. Atraiu-o como campo de estudo o período medieval, onde demonstrou raras qualidades de inteligência e de sensibilidade literária. Partindo das fontes latinas, depressa se devota ao universo dos manuscritos medievais, particularmente dos códices alcobacenses, ainda pouco desbravados, na Biblioteca Nacional em Lisboa. Os ensaios, que, a partir da década de 1950, publica com regularidade, chamam a atenção, pela novidade dos horizontes que rasga, por entre homens e livros. Deixa encanto na prosa e enleia nas leituras que propõe – pelas correlações temáticas e textuais que estabelece, pela largueza nas perspectivas que lança ao abarcar a variedade dos géneros literários; as análises são tanto mais operativas quanto articulam associações em campos menos frequentados. Nele a intuição e a sensibilidade literária desdobram-se em capacidade criativa (que o levará ocasionalmente ao campo da ficção pessoal) e dão às suas construções leveza e graciosidade em que a poesia nunca é penhorada à erudição de que se alimenta nem o juízo crítico sacrifica a elegância do enunciado.

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